Hora de Mudar

1998 – 2014 nada mudou na Copa do Mundo

1998 – 2014 nada mudou na Copa do Mundo

1998 – 2014 nada mudou na Copa do Mundo

taca da copaEstamos a 11 dias da abertura da Copa do Mundo no Brasil. Muitas dúvidas ainda pairam no ar se vai ou não dar tudo certo.

Desde que tive a oportunidade de ver em 1998 toda a Copa do Mundo na França, entendi que esse é um grande evento promocional e extremamente comercial.

Aquela Copa tinha que ser da França que curiosamente vivia um momento politico social muito semelhante ao que vivemos hoje.

Para começar os brasileiros que como eu foram para o jogo de abertura tiveram que descer em Lisboa – Portugal, pois os aeroviários franceses estavam em greve no Aeroporto Internacional de Paris – Charles de Gaulle.

A Disneyland Paris também estava em greve. As passeatas aconteciam todos os dias e só fomos ver os franceses torcerem na última semana para a seleção francesa. Artistas, politicos, personalidades vieram a TV pedindo o apoio de todos para o último jogo.

Fomos receber a entrada para o jogo por volta da 12, todos preocupados em não receber, e ao chegarmos o estádio os 10.000 brasileiros foram espalhados pelo estadio lotado de franceses que receberam na entrada uma especie de abada algumas azuis e outras vermelhas e tingiram o estádio com as cores da França.

Que coisa estranha quando não vimos os jogadores se aquecerem em campo e o alto falante do estádio anunciar o Edmundo no lugar do Ronaldo e ninguém entendeu depois quem entrou foi o Ronaldo. É bom lembrar que na época não tínhamos os celulares e as comunicações eram precárias.

Para mim essa história ainda vai ser recontada.

No final, campeonato perdido, fomos todos para os onibus para retornar aos hoteis e o que encontramos? Paris todo nas ruas comemorando e nos agredindo, atirando garrafas e latinhas nos onibus e quando parávamos no transito balançavam como que querendo virar. Nada só não aconteceu porque além de tirarmos todas bandeiras e indicações do Brasil, o motorista do onibus saiu da rota predeterminada e nos levou de volta ao hotel salvos.

Essa história toda me veio a mente hoje quando fui ler a Veja São Paulo e encontrei a deliciosa crônica de Matthew Shirts (esse americano/brasileiro) falando disso tudo.

Abaixo coloco a crônica para vocês se deliciarem.

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Croata não usa saia

Crônica – 30.mai.2014 por Matthew Shirts – Veja São Paulo

cronica-2376 matheus shirts

Cheguei a Paris pela primeira — e única — vez na vida poucas horas antes do pontapé inicial da Copa de 1998, em companhia do escritor Mario Prata. Tivemos o tempo necessário para subir ao quarto, escovar os dentes e tomar uma ducha.

Essa última ação acabou demorando um pouco mais do que se esperava. Eu não conhecia a tecnologia hidráulica dos franceses. Liguei o chuveiro com pressa. A água saiu gelada de uma mangueira improvável pendurada a meu lado.

Gritei e pulei ao mesmo tempo, enrolando-me na cortina sem querer, de uma forma pouco corajosa. Esguichou água gelada pelo banheiro todo. Busquei refúgio num canto fora do alcance do líquido. Molhou até mesmo o carpete do quarto antes de eu me entender com a geringonça. “Vai ver é por isso que francês não toma banho”, pensei, preconceituoso, enquanto vestia rapidamente a camiseta da seleção e pegava a bandeira do Brasil em preparação para a partida de estreia na competição, contra a Escócia.

Fomos de ônibus do hotel até o bairro de Saint-Denis, na periferia da cidade, onde fica o estádio, Le Stade de France, mas tivemos de parar longe, não me lembro mais por quê. Estava eu ali a trabalho, para escrever sobre a Copa do Mundo, minha segunda, junto do amigo Mario Prata. Atravessamos a pé Saint-Denis, que mais parecia um bairro de país pobre do que a Paris da minha imaginação.

Encontramos pelo caminho dezenas de escoceses em graus variados de embriaguez. Dizia-se que estavam na Cidade Luz fazia uma semana. A combinação de densos pelos corporais masculinos com saias quadriculadas tornava fácil a identificação de sua nacionalidade.

Um dos mais avantajados parou na calçada, sem aviso, em nossa frente e se dobrou para levantar a saia. Não sei bem o que eu esperava, mas levei um susto, o segundodo dia, diga-se, ao me ver diante do derrière do gringo. Ele não usava cueca nem nada, nadinha. Vim a saber depois que o “verdadeiro escocês” nunca usa nada debaixo da saia. Vivendo e aprendendo. Não era bonita a vista. Paramos eu e o Prata, os olhos esbugalhados, a tempo de evitar uma colisão. O escocês ainda virou a cara para trás e gritou para nós dois: “O Ronaldo já viu isto?”.

Esse momento está encravado na minha memória. Ficará comigo para sempre. Sei que a crônica, como gênero, dá margem a dúvidas, mas eu não iria inventar uma coisa dessas. Juro.

O encontro me veio à cabeça na semana passada em uma de minhas visitas de inspeção à Arena Corinthians, no bairro de Itaquera. Fui de metrô até o estádio pela quarta vez. Está lindo. Nada deve ao estádio da França. Mais uma vez o Brasil vai abrir uma Copa do Mundo contra um pequeno país europeu. O estádio é novo e fica fora do centro da cidade. Só de pensar fico com frio na barriga. Naquela ocasião, em 1998, o Brasil ganhou o jogo de abertura e perdeu a final. Vamos torcer para um resultado melhor desta vez. Croata, ao menos, não usa saia.

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