Vivemos um momento muito dificil no Brasil de hoje.
Na Revista Veja dessa semana tem um excelente texto de Lya Luft que descreve bem pelo estamos passando e o reproduzo para conhecimento e reflexão
Lya Luft (76 anos) – Lya Fett Luft é uma escritora e tradutora brasileira. É colunista da revista mensal Veja e professora da UFRGS aposentada.
Não fui eu, professora.
Fatos espantosos na política, que comanda a economia e o resto neste naufrágio lento e grave que precisa ser detido, nos lembram o menino que, fazendo na sala de aula algo reprovável, diante do olhar severo da professora aponta o dedo para um colega e diz depressa: “Não fui eu, profe, foi ele!”.
O primeiro impulso de quem comete um malfeito é esquivar-se da culpa e mentir acusando outros. É preciso caráter e honradez para assumir responsabilidades.
Quando isso acontece no segmento público, do governo, sobretudo em altos escalões, é dramático, e envergonha a todos. Merecemos algo mais e melhor, que nos ajude a acreditar nas autoridades que nos governam (ou desgovernam). Pois perdemos essa confiança, o que se comprar a uma enfermidade séria ou mutiladora. Como crianças que descobrem que não podem confiar no pai ou na mãe e ficam relegadas ao desalento, ao pessimismo, à confusão.
Nestes tempos de aflição e vexames que nos diminuem aos olhos de outros países, mal se compreende que tudo isso tenha acontecido sem que a gente soubesse – às vezes fingíamos não notar ou nem queríamos saber.
O que fizeram com bens, empresas, fortunas quase incalculáveis, que pertenciam afinal ao povo brasileiro e serviriam para construir centenas de escolas, creches, postos de saúde, hospitais, casas e estradas?
O que fizeram, aliás, com a confiança de tantos?
Tarde começamos a enxergar, como adultos capazes de questionamentos sérios, e cobranças mais do que justas.
Não aceitamos mais as tocas acusações, disfarces, ocultamentos, fatos e atos para desviar a atenção da dura realidade que só os muitos ingênuos, ou interessados em manter a situação, se negam a ver.
É hora de urgentemente mudar, de nos unirmos em nome do direito, da justiça, da honra.
Temos entre nós alguém como o juiz Sergio Moro, que, apoiado por homens sérios do Ministério Público Federal, representa homens e mulheres, velhos e jovens de bem atingidos na sua honra pela atitude de governantes, grandes empresários, políticos e até membros do Judiciário que há anos acobertam males que solaparam não só a economia, mas a confiança e a honra do país – sombria e real constatação.
O impensável cortejo de ignomínias assumiu tal dimensão que muitos admitem – como se isso os desculpassem – que sem suborno, sem roubo e mentira não conseguiriam nem exercer suas funções e seu trabalho (vejam-se pronunciamentos de vários diretores das hoje malvistas empreiteiras). Muitos milhares de inocentes perderão – e já vem perdendo – o emprego, começando pelos trabalhadores do gigante Petrobras e de centenas de empresas a ela ligadas que vão fechar ou reduzir dramaticamente seu funcionamento.
O iludido povo brasileiro pagará essas contas.
O que dirão o que farão o funcionário de escritório eficiente, o operário exausto, o professor mal pago, o médico incansável, a dona de casa aflita, o pai de família revoltado, que com seus impostos sustentaram entidades ineficientes que deveriam prover boa saúde, educação, transportes e outros?
Que falha em nosso discernimento nos fez escolher tão mal governantes representantes?
Faltou a base de qualquer nação: educação. Que não deve se nivelar por baixo nem facilitar, mas proporcionar a todos a merecida ascensão na sociedade. Alguém bem informado escolhe diferentemente daquele submetido a uma manipulação impiedosa, mantido feito gado impotente longe do progresso que precisa ser distribuído entre todos os brasileiros, até os mais desvalidos – e não haveria multidões de desvalidos que ainda povoam o país.
O que eles, os mais pobres entre os pobres, e todos os que têm acesso a alguns bens recebem neste dramático momento não são desculpas nem projetos reais, mas acusações absurdas, posturas toscas, tentativas desastradas de tapar o sol cruel da realidade.
Somos as nossas escolhas: talvez se possa escolher diferente, pelo nosso bem e pelo bem desse país, que não deveria estar tão vexado e afastado da posição que pode ter no mundo civilizado.