Pois é, se não estou inspirado para escrever das coisas da vida tenho me emocionado com as muitas manifestações dos nossos brilhantes intelectuais sobre o momento atual que o Brasil vive.
Ao voltar de automóvel de uma reunião em São Paulo, pelo rádio ouvi uma declamação de um texto pelo nosso brilhante contador de “causos” Rolando Boldrin que emocionado emprestava sua voz a uma poesia de Cleide Canton, com trechos de Rui Barbosa, escritos a algum tempo mas que representam muito esse momento de mudança que estamos vivendo.
Ao lerem, tenho certeza, que cada um de vocês sentirão como se fossem vocês falando.
Recomendo que ao lerem a poesia peguem um lenço, coloque o vídeo do Rolando Boldrin e se emocione. É de arrepiar.
http://www.youtube.com/watch?v=5ahRnuQmZQs
◊◊◊◊
Sinto vergonha de mim!
“Por ter sido educadora de parte desse povo,
por ter batalhado sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade
e por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mim
por ter feito parte de uma era
Que lutou pela democracia,
pela liberdade de ser
e ter que entregar aos meus filhos,
simples e abominavelmente,
a derrota das virtudes pelos vícios,
a ausência da sensatez
no julgamento da verdade,
a negligência com a família,
célula-mater da sociedade,
a demasiada preocupação
com o “eu” feliz a qualquer custo,
buscando a tal “felicidade”
em caminhos eivados de desrespeito
para com o seu próximo.
Tenho vergonha de mim
pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo,
a tantas desculpas ditadas
pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de humildade
para reconhecer um erro cometido,
a tantos “floreios” para justificar
atos criminosos,
a tanta relutância
em esquecer a antiga posição
de sempre “contestar”,
voltar atrás
e mudar o futuro.
‘Tenho vergonha de mim
pois faço parte de um povo
que não reconheço,
enveredando por caminhos
que não quero percorrer…
Tenho vergonha da minha impotência,
da minha falta de garra,
das minhas desilusões
e do meu cansaço.
Não tenho para onde ir
pois amo este meu chão,
vibro ao ouvir meu Hino
e jamais usei a minha Bandeira
para enxugar o meu suor
ou enrolar meu corpo
na pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti, povo brasileiro!
Poesia de Cleide Canton