Hora de Mudar

Reinventar o amor também é mudar

Reinventar o amor também é mudar

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MQUINA~1Pensando se reinventar é tambem mudar, comecei a imaginar em quantas mudanças que o homem vem fazendo no seu dia a dia. Se podemos reinventar uma empresa, um equipamento, uma tecnologia será que não podemos reinventar nossos sentimentos?

O amor, por exemplo, é um sentimento que pode e deve ser reinventado. O amor nasce de um nada e se torna a razão da própria sobrevivência. Chorar, borboletas no estomago, arrepio na espinha, batimentos rápidos do coração, rir e vibrar são alguns sintomas de quem sabe amar.

Imagine se tivessemos o poder de escolher de estar apaixonado ou não como simplificaria milhares de ações do nosso cotidiano. Ao acordar pela manhã num simples clique, em “sim – quero estar apaixonado hoje” automaticamente tomaríamos ações de ligar para pessoa amada, mandar e-mails e ansiosamente esperar no MSN, planejar o que vai fazer no fim de semana. Ao clicar em “não – quero estar apaixonado hoje” nossas mentes simplesmente nos levaria para o mundo cotidiano, sem graça e cinza.

Estar apaixonado é algo fantástico. A pessoa amada é o alicerce da felicidade e seus pequenos defeitos os consideramos qualidades. Sua ausência é uma tortura chinesa e seu sorriso, uma simples piscada é motivo para arrancar suspiros em qualquer situação.

O problema do amor é que encaramos esse sentimento como se estivessemos na Europa romântica de 2 séculos atrás e não nas pessoas atuais. Naquela época havia os ideiais coletivos e a valorização da capacidade de sofrer e aceitar o sofrimento como parte da trajetória amorosa. Amar, como tudo o mais, implicava a possibilidade de sofrer. As pessoas podiam cometer suicídio por uma paixão. Morrer de amor, literalmente.

O sexo, que era menos livre, era fantasiado como o momento sublime não só por ser escasso, mas porque representava o prêmio pela espera, pelas renúncias ou pelo sacrifício. O romantismo tentava equilibrar o desejo de felicidade individual e o compromisso com só ideiais coletivos. O romantismo criou os alicerces da família nuclear e transformou em virtude pública a fidelidade da mulher em relação ao homem –  nunca o contrário.

Hoje, vivemos o enfraquecimento dos ideiais coletivos. O sexo, mais do que livre, se tornou banal. O corpo virou mercadoria e o comércio das sensações imediatas desbancou a cultura do sentimento. Mas o amor romântico sobreviveu à mudança dos tempos, dando origem a uma contradição emocional presente na maioria dos indivíduos.

Como fazer se desde cedo, aprendemos a amar como Romeu e Julieta e a ver nesse amor a felicidade perene e ao mesmo tempo, não querermos abrir mão da cultura do prazer que a modernidade nos autoriza a usufruir.

 O romantismo, feito sob medida para um mundo que não é mais o nosso, acabou se chocando com a sociedade atual. Mostrou-se incapaz de criar, ele próprio um valor durável e moralmente superior ao consumo de produtos programados para se tornar obsoletos, descartáveis. Resultado: idealizamos um sentimento que contraria a paixão pelo descartável.

Descobrir que o príncipe encantado tem hérnia de disco e a musa inspiradora está se contorcendo em uma crise renal, faz o romantismo desaparecer, pois não suportamos problemas, frustações e limites ao nosso prazer. Essa imagem é contraria a idéia de que um dia encontraremos alguém que irá nos completar totalmente.

Porisso o amor hoje é frustante a quem aspira a ele. Ele foi supervalorizado e se tornou a unica forma que temos de respeitar, considerar e olhar o próximo com carinho e ternura. Num mundo cheio de violência, ganância e da indiferença, o amor se tornou o álibi da sociedade. Mas será que além da paixão romantica, somos capazes de levantar um só dedo para ajudar aqueles que necessitam de nós? Será que estamos prontos a receber essa ajuda entendendo isso como demonstração de amor e não algum interesse escondido?

Assim se quisermos manter o que o amor tem de bom, temos que reinventá-lo. Adaptá-lo aos novos tempos, dar-lhe medida humana. Sim, porque se trata de uma criação do ser humano. Pode ser mantido, alterado, melhorado, piorado e até abolido.

Precisamos entender que amar não é um reflexo, como respirar, ou um instinto, como comer. É uma habilidade moldada pela cultura, segundo padrões da sociedade burguesa européia. E as invenções humanas não resistem a normas fixas.

O amor precisa de uma nova ética, que derrube os modelos irrealizáveis de relacionamento. Precisamos ter consciência, por exemplo, de que o amor é efêmero. Assim, sofremos menos com a perda, que é inevitável. Para amar, será preciso querer amar.

A fidelidade carece também de uma revisão. E não falo aqui de amizades coloridas ou paixões fúteis. Penso que em um mundo onde não tenhamos que nos agarrar a um parceiro de modo compulsivo, possessivo e desesperado, questões de fidelidade podem ser negociadas caso a caso, sem tanto sofrimento inútil. Não prego a irresponsibilidade e o desrespeito para com o outro, mas prego que o único compromisso deve ser a recriação permanente do amor.

No primeiro amor, todos nós seguimos ao pé da letra a receita do romantismo das novelas; no quinto, temos que inventar outra coisa, outras emoções e outros compromissos.

Sonhar com principes encantados e cinderelas é bom, mas melhor ainda é saber que, na vida, vamos ter que amar as “marias” e os “antonios”, que são em tudo, parecidos conosco, com nossas fraquezas, imperfeições e também, com nossa eventual generosidade.

5 thoughts on “Reinventar o amor também é mudar

  1. Vera

    Muito bom este texto! Curioso também, não sei se é possível reinventar o amor, acho extremamente difícil descrever o amor, é tão particular e tão diferente para cada um. Bom talvez eu ainda esteja atrelada a este amor “antigo”, mas de uma coisa eu tenho certeza não importa o quanto já tenhamos amado, é sempre um aprendizado amar de novo e acho que nascemos pra isso, então só nos resta amar, amar e amar!!

  2. Deusa

    Quando Vinícius compôs a música Medo de amar associei este texto que acabo de ler a esta canção.
    “E que ter medo de amar não faz ninguém feliz”.
    Talvez seja o medo que nos impossibilita, ou até mesmo nos deixe demasiadamente receosos.
    Vivemos em uma sociedade que deixou de sonhar, isto quer dizer que também deixou de amar, amar verdadeiramente…de corpo e alma!
    Infelizmente eu estou descrente.
    Não consigo me permitir…pois, tenho medo de amar!

  3. Mah - MG

    Vi que aceitou a sugestão de escrever mais sobre reinventar. Mas confesso que me supreendeu com as colocações sobre ser o amor feito para dois seculos atras. Pensando sobre o assunto tenho que concordar contigo. Parabens

  4. Helena de Troia

    Muito interessante seu texto. Nunca tinha pensado por esse lado, realmente o amor tem que ser reinventado. Sou lesbica e talvez consigo perceber mais o que colocou porque sinto na pele. Adorei seu texto.Vou voltar e ler os outros tambem.

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