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E quando acabar a quarentena do COVID19?

Essa é uma pergunta que todos andam se fazendo. Para poder imaginar como poderá ser, resolvi pesquisar como foi em outras situações semelhantes do passado para ver se consigo imaginar o futuro.

Comecei pesquisando aqui no Brasil e me deparei com uma brilhante reportagem feita pela Liz Batista no Acervo do Estadão, sobre a gripe espanhola de 1918, sim 102 anos atrás e estamos todos aqui.

Diz ela logo no inicio:

A epidemia de gripe espanhola, a mais mortal da história contemporânea, com cerca de 50 milhões de mortes estimadas em todo o mundo, atingiu a cidade de São Paulo no início de outubro de 1918. Diante do rápido avanço da doença o Serviço Sanitário Estadual de São Paulo, na figura de seu diretor Arthur Neiva, decretou estado epidêmico em 15 de outubro de 1918. O que possibilitou, entre outras medidas,  a suspensão das aulas nas escolas e o fechamento de estabelecimentos comerciais e de entretenimento. O estado de emergência foi levantado em 19 de dezembro daquele ano, quando o registro de mortos passou a indicar uma queda significativa. Na conta oficial da cidade 5.331 pessoas morreram da gripe. Foram 66 dias de medo e morte, como lembra o jornalista e escritor Roberto Pompeu de Toledo na obra A Capital da Vertigem (2015)”. 

Sim está tudo preservado nas páginas do Acervo do Estadão.

Em nota publicada na sua edição noturna de 16/10/1918, o Estadão apoiava a decretação de estado epidêmico e cobrava suspensão de aulas em todas as escolas.

E continua:

“A partir dos registros do período é possível apontar semelhanças entre a epidemia de gripe em 1918 e atual epidemia de Covid-19. Como os métodos de prevenção e contenção como o isolamento social e atenção à higiênia e as ações de solidariedade em meio à crise.  Mas, enquanto a história da epidemia de 1918 pode ser circunscrita à cerca de dois meses na cidade de São Paulo, a da epidemia atual ainda tem seu fim incerto”.

Segundo os relatos da época quando a gripe espanhola em setembro de 1918 chegou a capital do Brasil que era o Rio de Janeiro, já havia se alastrado pelo mundo todo.

Os paulistas acompanhavam preocupados pela imprensa, mas em poucos dias conheceram a força avassaladora da “gripe hespanhola” ou “influenza hespanhola”, já em novembro de 1918, São Paulo já realizava contagem diária de mortos e infectados pela gripe.

Comunicado do Serviço Sanitário para prevenção da gripe espanhol, 1918.

A reportagem continua (vou reproduzir na integra):

“No noticiário as informação vão da identificação dos primeiros casos, passando pelas medidas adotadas contra o avanço da epidemia as ações beneméritas para ampliar e adaptar a rede de hospitais que contava principalmente com a Santa Casa de Misericórdia e com o então Hospital de Isolamento, hoje Instituto Emílio Ribas. Das mudança no dia a dia da população ao luto que se abateu sob a cidade, com contínuos cortejos fúnebres e coleta de corpos. Da rápida demanda de expansão dos serviços funerários à construção de novos cemitérios e valas comuns para comportar os mortos e a instalação de iluminação nos já existentes para que enterros pudessem ser feitos durante todo o dia e toda a noite”. 

O “Club Athletico Paulistano” adaptou instalações para comportar leitos para os doentes da gripe espanhola, São Paulo, SP, 1918.

“Diferente da epidemia provocada pelo novo coronavírus, que teve o primeiro caso registrado em São Paulo, fato que soou o alerta para a chegada da epidemia no Brasil, a gripe espanhola chegou ao País pelo Rio de Janeiro e levou cerca de cinco dias até se instalar em São Paulo. Por isso, nesse meio tempo, muitos paulistanos nutriram a esperança de que talvez a gripe pudesse poupar a cidade”.

“Levando em conta a escassez de informações sobre a doença, fato agravado pela censura de guerra que vigorou durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918); a ausência de organizações médicas internacionais que informassem sobre as características, comportamento e forma de contaminação da doença, a demora na execução de medidas de combate à gripe foi, em certa medida, um produto do seu tempo e condições históricas. Em 1918, teorias científicas ainda disputavam sobre a natureza do organismo causador da “influenza hespanhola”. Enquanto alguns cientistas afirmavam que se tratava de uma bactéria, outros defendiam que era um vírus, dividindo opiniões sobre a forma de controle da epidemia”.

“A luta contra a epidemia. Nesse contexto, muitos dos cuidados aplicados no combate a outras doenças acabaram por serem as armas utilizadas contra a epidemia em curso. O isolamento social, por exemplo, revelou-se essencial para reduzir o ritmo da contaminação. Assim, medidas como o fechamento de escolas, “theatros”, “cinematógraphos”, “bars” e a suspensão de campeonatos “sportivos” foram às primeiras ações  a serem colocadas em prática. Autoridades também propuseram reorganizar datas de feriados  para ajudar no esforço de manter a população em casa e o comércio fechado”.

“O Theatro Municipal fechou as portas em 24 de outubro, após a soprano de a temporada cair doente. O Campeonato Paulista de “Football” foi suspenso. Fora dos campos, os “clubs” voltou-se contra um adversário comum, a epidemia, e organizaram ações beneméritas para ajudar os afetados pela gripe. O Clube de Regatas do Tietê, assim como outras tradicionais associações esportivas de São Paulo, transformou sua sede em um posto médico de atendimento

“Na esfera político administrativa,  medidas foram tomadas para garantir o abastecimento da cidade, créditos foram abertos e orçamentos foram emergencialmente alterados para enfrentar a situação.  O Estadão, mesmo  afetado pela falta de pessoal afastado por conta da doença, conseguiu manter um boletim informativo sobre o curso da epidemia. Nesse noticiário constam outras medidas dignas  de menção, entre elas os cuidados com a desinfecção dos bondes; a adaptação de prédios para instalação de leitos para os doentes – para citar um exemplo, as dependências do Mosteiro São Bento, no centro de São Paulo, foram transformadas para funcionar como um hospital”. 

“Uma campanha pedindo aos comerciantes e industriais que reduzissem as horas de trabalho e mantivessem funcionários doentes afastados do serviço, até o restabelecimento de sua saúde, sem demissões. O estabelecimento de canais para a difusão das medidas de  prevenção indicadas pelos serviços de Saúde nos jornais – como a publicação nos jornais dos boletins do Serviço Sanitário e listas, divididas por região, dos hospitais e instituiçõesque os convalescentes deveriam procurar”.

“O fim do flagelo. Com a desaceleração do contágio e  a redução das mortes pela gripe no começo de dezembro de 1918, o prefeito, Washington Luís, encaminhou a prestação de contas dos esforços empregados contra a doença à Câmara Municipal. Dias depois, foi decretado o final do estado de epidemia em São Paulo”.

“No documento, ele agradece a “indiscutível” solidariedade de todos e confiança dos parlamentares  na sua administração “durante os calamitosos dias”  em que a população de São Paulo foi “flagelada pela peste””.

“O texto, assume um tom autoral de um combatente que retorna da guerra e  revela o espanto e o sentimento de impotência ante a fúria devastadoras da epidemia. “Não conservam, os contemporâneos memória de um flagelo igual; conta a História que, na Idade Média, confusa e obscura, pestes assolaram a humanidade (…). Mas, parece que a previsão dos homens, os progressos da Ciência, os ensaiamentos da higiene, tinham afastado ou, pelo menos, reduzido essas terríveis consequências (…).  A invasão insólita da epidemia , a violência do seu ataque, a inutilização completa, se bem que periódica da grande maioria da população vitimada, o coeficiente altíssimo da mortalidade em toda a parte, nos climas quentes como nos frios, nas estações hibernais como nas estivais, nas terras de sábias organizações como naquelas mal aparelhadas, vieram, trazendo o pânico e deixando o luto e a desolação, mostrar mais uma vez a contingencia das coisas humanas. Em toda a parte, a aparição virulenta foi brusca e a sua disseminação fulminante. “Nós como todas as grandes cidades, pagamos o equivalente tributo ao inimigo insidioso”.

Pois é, 102 (cento e dois) anos depois e estamos nós aqui revivendo a história, devemos sair dessa COVID-19 mais fortes e diferentes, pois nada será igual.

Esses momentos quando acontecem é HORA DE MUDAR.

Existe uma teimosia de sua parte que se recusa em mudar, em se desapegar de uma ilusão.

É HORA DE MUDAR . . .

Eduardo Augusto dos Santos

Paulistano do bairro da Indepedência (Ipiranga-São Paulo), que apesar de manter fortes vínculos com suas origens e convicções sempre foi um apaixonado pelas mudanças como forma de evoluir e crescer como ser humano, daí HORA DE MUDAR.

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Eduardo Augusto dos Santos

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